O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, defendeu que o caminho para reduzir o número de beneficiários com dependência longa no Bolsa Família se dá pelo fomento do emprego e pela criação de regras que permitam a essas pessoas se arriscar no mercado de trabalho sem perder o benefício instantaneamente.
Em entrevista ao Poder360 na segunda-feira (14), o ministro disse que parcerias com o setor privado e o acesso ao microcrédito são medidas adotadas pelo governo que têm dado resultado.
Das 20,6 milhões de famílias inscritas no Bolsa Família, 7 milhões recebem dinheiro do programa há 10 anos ou mais, de acordo com dados de fevereiro de 2025.
Esse número representa 34,1% do total e mostra a dificuldade que algumas parcelas da população têm em deixar de depender do Estado para se manter.
Os dados são exclusivos e foram obtidos via Lei de Acesso à Informação, com cruzamento de informações do Ministério do Desenvolvimento Social.
A região que tem o maior percentual de beneficiários em dependência longa é o Nordeste: 38,8% (ou 3,7 milhões) estão no programa desde 2015 ou antes. Norte (33,7%), Sul (29,5%), Sudeste (29,1%) e Centro-Oeste (26,9%) aparecem na sequência.
a entrevista, o ministro afirmou também que 89% dos empregos criados com carteira assinada em 2025 são do Cadastro Único. São 474 mil pessoas de um saldo de 531 mil. Em 2024, o número chegou a 98,8%.
“Nós alteramos as regras ali em 2023 e nem todo mundo sabe desse novo regramento. Nem o setor empresarial, nem os que são beneficiários do Bolsa Família. O fato concreto é assim: quando assina a carteira de trabalho não é motivo para perder o emprego [o ministro quis dizer o benefício]. Garantir que o ato de assinar a carteira é o que a gente quer. Nós queremos é o emprego, queremos é que a pessoa possa crescer”, disse.
Dias afirmou que o governo Lula criou um “bolsão de segurança” ao mudar as regras do Bolsa Família para que as pessoas não tenham medo de perder o benefício ao empreender e ter um novo emprego, com a saída e volta automática ao programa dependendo da renda.
Uma delas é a “Regra de Proteção”, que permite que inscritos que aumentem de renda possam receber 50% do valor do auxílio por até 24 meses. Podem receber o benefício famílias com renda de até R$ 218 mensais por pessoa e que cumpram todos os requisitos cadastrais.
“O que joga para o terra que esse povo não quer trabalhar. Quando a gente olha, tem ainda muito emprego sazonal. […] E essas pessoas querem crescer. No passado cortavam o Bolsa Família e ainda entrava numa fila quando perdia o emprego que demorava 1 ano, 2 anos para poder voltar. […] Outra mudança é que quando sai do Bolsa Família e perde o emprego lá na frente, volta automaticamente”, disse.
Wellington Dias disse também que a faixa do programa Acredita voltada para a população de baixa renda já financiou R$ 3,1 bilhões a 200 mil pessoas inscritas no Cadastro Único desde o lançamento, em outubro de 2024. O recurso é destinado a microempresários e tem juros mais baixos oferecidos por instituições financeiras parceiras.
O programa Acredita no 1º Passo permite que beneficiários do Bolsa Família e dos que estão inscritos no Cadastro Único possam ter acesso a crédito com orientações para empreender. A iniciativa oferece cursos de qualificação profissional.
Os aportes chegam a R$ 21.000. Podem participar aqueles que têm de 16 a 65 anos. Pessoas com deficiência, mulheres, jovens, negros e integrantes de populações tradicionais e ribeirinhas têm prioridade.
Na entrevista, o ministro disse que o Ministério do Desenvolvimento Social desenvolveu uma parceria com o Ministério da Saúde para identificar pessoas de baixa renda viciadas em apostas esportivas, as chamadas bets. O objetivo é dar tratamento a esses beneficiários, assim como em casos de outras dependências, e garantir que o recurso do programa seja de fato usado no sustento da família.
Em novembro de 2024, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux proibiu o uso de recursos de benefícios sociais em apostas online. Em dezembro, porém, a AGU argumentou que o governo não tem as ferramentas para impedir que o dinheiro de programas sociais sejam direcionados a apostas, já que o Executivo não tem como diferenciar o dinheiro do Bolsa Família de outras rendas que entram na conta bancária dos beneficiários.
Segundo Dias, o governo identificou no ano passado que só 3,4% dos beneficiários utilizaram o cartão do programa para apostas.