A deturpação da política como instrumento da democracia representativa no Brasil é um fenômeno que se manifesta de maneira alarmante, revelando um emaranhado de contradições e problemas que comprometem a ética e a moral na administração pública. A politicagem, que se distancia da verdadeira essência da política, transforma a representação popular em um jogo de interesses, onde a corrupção ativa e passiva se torna uma prática comum, especialmente entre os partidos de centro-direita etc que, em sua busca por poder, muitas vezes se esquecem dos princípios que deveriam reger a administração pública.
Darcy Ribeiro, em suas reflexões sobre a política brasileira, já alertava para a necessidade de uma verdadeira educação política que formasse cidadãos conscientes e críticos. No entanto, o que se observa é uma crescente desilusão com o sistema, onde as emendas individuais impositivas, agora conhecidas como "emendas Pix", se tornaram instrumentos de clientelismo e troca de favores, em vez de serem utilizadas para o bem comum. Ulysses Guimarães, defensor da Constituinte de 1988, sonhava com uma democracia participativa, mas a realidade atual mostra que a transparência e a publicidade como princípios da Constituição Federal de 1988, não se efetiva.
A criação de Organizações Não Governamentais (ONGs) como intermediárias para o repasse de verbas destinadas a deputados e senadores é um exemplo claro de como a politicagem se sobrepõe à política. Essas entidades, muitas vezes, servem como fachada para a concentração de recursos financeiros, favorecendo determinados setores da economia, como construtores que erguem obras sem funcionalidade e empresas de tecnologia que se beneficiam de contratos obscuros, repasse de recursos para “cabos eleitorais”, pagamento de dívidas de campanhas eleitorais etc. As consequências dessa deturpação são graves e afetam diretamente áreas essenciais como saúde, educação e trabalho. A falta de recursos destinados a essas áreas, em virtude da corrupção e da má gestão, resulta em um ciclo vicioso de pobreza e desigualdade. A população, que deveria ser o centro das políticas públicas, se vê relegada a um segundo plano, enquanto os interesses de uma elite política e econômica prevalecem.
Esse cenário se configura como uma profunda vergonha, gerando tristeza e frustração, além de uma acentuada falta de expectativas positivas em relação ao futuro. A indignação que muitos sentem em relação à política é um reflexo da realidade vivida por pessoas honestas e trabalhadoras que, diariamente, se esforçam por um país melhor. A imoralidade das emendas impositivas, que deveriam servir ao bem comum, transforma-se em um instrumento de clientelismo e favorecimento, corroendo a confiança da população nas instituições democráticas. Essa distorção não apenas deslegitima a política, mas também perpetua um ciclo de desilusão que afasta os cidadãos do engajamento cívico. Portanto, é imprescindível promover a dignidade da política, com ética e a transparência nas ações governamentais. Somente assim poderemos reacender a esperança em um futuro mais justo e igualitário, onde a política seja verdadeiramente um reflexo da vontade popular e um meio de transformação social.
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