A situação climática atual, tanto no Brasil quanto no mundo, é um reflexo de um sistema econômico e político que prioriza o lucro imediato em detrimento da sustentabilidade. A crise climática não é apenas uma questão ambiental; ela se entrelaça com a educação, a política, a geopolítica, o agronegócio e as energias não renováveis, afetando profundamente a vida humana. Darcy Ribeiro, em suas reflexões sobre a educação, enfatizava que "a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo". No entanto, a educação escolar, em muitos contextos, ainda não aborda de maneira adequada as questões climáticas e suas implicações. A falta de uma formação crítica e contextualizada impede que as novas gerações compreendam a gravidade da crise ambiental e suas interconexões com a política e a economia.
A educação deve ser um espaço de conscientização e mobilização, preparando os jovens para enfrentar os desafios climáticos e promover mudanças significativas. Por outro lado, a educação não é redentora; ela não pode, sozinha, transformar uma realidade que é permeada por um “grande jogo” de poder, interesses, ideologias e necessidades do mercado. No campo político, que precisa ser um espaço representativo das vozes da maioria da população, tornou-se, em quase sua totalidade, uma política de lobby. Essa prática é a representação de interesses de um grupo junto a autoridades públicas para influenciar decisões políticas, administrativas ou legislativas em torno de objetivos particulares, sobretudo do agronegócio, de grandes grupos empresariais e do clientelismo político, abrindo, assim, pouco espaço para lideranças políticas representativas saudáveis.
Desse modo, as decisões políticas em âmbito nacional e regional muitas vezes se mostram ineficazes diante da urgência da crise climática. William Nordhaus, prêmio Nobel de Economia, argumenta que "a mudança climática é um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou". No entanto, as decisões políticas frequentemente são influenciadas por interesses do agronegócio e das indústrias de energias não renováveis, que resistem a uma transição para práticas mais sustentáveis. O agronegócio tem contribuído significativamente para o desmatamento e a degradação ambiental, exacerbando a crise climática.
O agronegócio, enquanto setor econômico vital, tem um impacto significativo no clima e na vida humana, gerando uma série de consequências negativas. A expansão das áreas agrícolas, especialmente para a produção de commodities como soja e carne, leva ao desmatamento em larga escala, particularmente na Amazônia. Essa destruição de ecossistemas não apenas contribui para a perda de biodiversidade, mas também reduz a capacidade das florestas de sequestrar carbono, exacerbando as mudanças climáticas. Por sua vez, o agronegócio é responsável por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente devido à pecuária e ao uso de fertilizantes químicos. A decomposição de resíduos orgânicos e a fermentação entérica em ruminantes liberam metano, um gás com potencial de aquecimento global muito maior que o dióxido de carbono.
Para piorar, a agricultura industrializada demanda grandes quantidades de água e solo, levando à degradação desses recursos. A irrigação excessiva pode causar a salinização do solo e a escassez de água, afetando não apenas a produção agrícola, mas também o acesso à água potável para as comunidades. Essa situação cria impactos na saúde das pessoas. O uso de pesticidas e fertilizantes químicos não apenas contamina o solo e a água, mas também representa riscos à saúde humana. A exposição a esses produtos químicos está associada a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças respiratórias, câncer e distúrbios hormonais.
Além disso, é importante considerar que o agronegócio frequentemente prioriza grandes propriedades e monoculturas em detrimento da agricultura familiar, exacerbando a desigualdade social. Comunidades locais podem ser deslocadas e perder acesso à terra e aos recursos naturais, resultando em conflitos e insegurança alimentar.
Para mitigar esses impactos, é essencial promover práticas agrícolas sustentáveis, como a agroecologia, que respeitam a biodiversidade e os ciclos naturais. A transição para uma agricultura mais sustentável não apenas ajuda a proteger o clima, mas também garante a segurança alimentar e a saúde das populações. Ulrich Beck, em sua teoria da sociedade de risco, destaca que "vivemos em uma sociedade que não apenas produz riscos, mas que também é afetada por eles". A geopolítica contemporânea é marcada por disputas por recursos naturais, onde países em desenvolvimento, como o Brasil, enfrentam pressões externas para explorar suas riquezas, muitas vezes à custa de sua biodiversidade e do bem-estar de suas populações. Essa dinâmica gera um ciclo vicioso de exploração e degradação, que afeta desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis.
Os efeitos da crise climática são evidentes: aumento das temperaturas, eventos climáticos extremos, escassez de água e insegurança alimentar. Anthony Giddens alerta que "a mudança climática é um desafio global que exige uma resposta global". A interconexão entre as nações torna essencial a cooperação internacional para enfrentar a crise. No entanto, a falta de vontade política e a resistência de setores econômicos poderosos dificultam a implementação de soluções eficazes.
Desse modo, Robert Pollin argumenta que a transição para uma economia verde não apenas é necessária, mas também viável. Ele defende que "investir em energias renováveis e em tecnologias sustentáveis pode gerar milhões de empregos e estimular o crescimento econômico". A transição para energias renováveis é uma das chaves para superar a crise climática, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e promovendo um desenvolvimento mais sustentável. Contudo, é necessário ponderar e considerar os impactos ambientais, respeitar as populações rurais, de modo que o desenvolvimento sustentável vá além do desenvolvimento econômico voltado para o grande capital, mas também possa impactar positivamente a vida de todas as pessoas.
O Acordo de Paris, adotado em dezembro de 2015 durante a Conferência das Partes (COP21), é um marco global na luta contra as mudanças climáticas. O principal objetivo do acordo é limitar o aumento da temperatura média global a bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para restringi-lo a 1,5°C. Para alcançar essa meta, os países signatários se comprometeram a apresentar e atualizar regularmente suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são planos de ação para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O acordo também enfatiza a importância da adaptação às mudanças climáticas e do apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento. Com a participação de quase todos os países do mundo, o Acordo de Paris representa um esforço coletivo para enfrentar um dos maiores desafios do nosso tempo, promovendo um futuro mais sustentável e resiliente.
Até outubro de 2023, todos os países signatários do Acordo de Paris, incluindo os países ricos, formalmente aderiram ao acordo. No entanto, a implementação e o comprometimento com as metas de redução de emissões variam significativamente entre eles. Alguns países, como os Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, se retiraram temporariamente do acordo em 2017, mas retornaram sob a presidência de Joe Biden em 2021. Outros países ricos, como a Austrália e o Japão, enfrentaram críticas por não estabelecerem metas suficientemente ambiciosas ou por não cumprirem os compromissos assumidos. Além disso, a União Europeia, embora tenha se comprometido com metas de redução, também é frequentemente desafiada a aumentar sua ambição.
A recusa dos países mais ricos em aderir ao Acordo de Paris tem consequências devastadoras para o meio ambiente e a vida no planeta. Esses países, responsáveis por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa, perpetuam um ciclo de aquecimento global que resulta em desastres naturais, como secas, inundações e furacões mais intensos. A falta de comprometimento em reduzir as emissões compromete os esforços globais para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, colocando em risco ecossistemas, biodiversidade e a segurança alimentar. Além disso, as comunidades mais vulneráveis, que menos contribuíram para a crise climática, são as mais afetadas, enfrentando deslocamentos forçados e escassez de recursos.
Marina Silva, uma das vozes mais proeminentes na luta pela preservação ambiental no Brasil, afirma que "não podemos tratar a natureza como um bem de consumo". Essa perspectiva é fundamental para repensar nossas práticas e políticas. A educação ambiental deve ser uma prioridade, capacitando cidadãos a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades.
Em resumo, a crise climática é um desafio multifacetado que exige uma abordagem integrada, envolvendo educação, política, economia e responsabilidade social. Para superar essa crise, é imperativo que a educação escolar se torne um espaço de formação crítica e engajamento, que a política priorize a sustentabilidade e que a sociedade civil se mobilize para exigir que os representantes dos países cumpram o Acordo de Paris para garantir o equilíbrio da natureza, com possibilidades de vida saudável para todas as pessoas, e para as futuras gerações.